Há, em Wenatchee, nos E.U.A,
Um garoto fugindo de casa;
Um cachorro dentro da mochila;
Uma montanha para ser escalada;
Que a Morte causa medo…
e que essa é “A mais pura
verdade”!
Se pararmos para pensar, nossos corpos são simples pontas de papel.
Frágeis de um modo impar. Somos dobráveis e vulneráveis sob a força de qualquer
vendaval que nos faça doer, sangrar. Essa é a Mais Pura Verdade da vida! No entanto, mesmo diante deste fato
irrefutável, o pequeno Mark nos ensina que, como todo guerreiro, temos também
nossos escudos às batalhas da vida... Temos Coragem, Determinação e Amigos
Verdadeiros que nos impulsionam, protegendo nossas almas.
Em A Mais Pura Verdade
(2015), livro de estreia de Dan Gemeihnart, conhecemos Mark fugindo de casa, separado 423km de seu objetivo e de alcançar seu
sonho. Antes de partir, ele deixa, em um esconderijo secreto, uma mensagem de
despedida para Jess, sua melhor
amiga. Levando seu cachorro Beauchamp, ou apenas Beu, dentro de sua mochila, Mark está deixando tudo para trás, pois,
em alguns momentos da vida, precisamos deixar o que temos, e, em momentos
raros, temos coragem de fazê-lo.
Em todos os sentidos que interessam, Mark é uma criança normal. Ele
gosta de registrar o que vê em fotografias e de escrever haicais em seu caderno.
Mas, em outro sentido, Mark não é como
as outras crianças. Mark está doente. O tipo de doença que tem a ver com hospital.
Tratamento. O tipo de doença da qual algumas pessoas nunca melhoram.
Por esse motivo, Mark foge. Ele sai de casa levando sua máquina
fotográfica, seu caderno, seu cachorro e um plano traçado: Mark irá escalar uma
montanha…
Nem que seja a última coisa que ele faça…
O livro possui aquela característica de nos fazer se apaixonar por sua
personagem. Mark possui uma luz e uma determinação tão veemente e forte guiando
seus passos à frente, que não existe como não torcermos para que a distância
que o separa da montanha seja reduzidos rapidamente.
Ao seu lado, a cada passo, Beau o acompanha. Beau é o motor que faz
mover as engrenagens na mente e no coração de Mark. Ele é a ligação que o
garoto tem com o próprio sentimento do Amor. Como o próprio Mark o define: “Beau é o cachorro mais bonzinho do mundo!”.
“Deslizei a mão para dentro da mochila a
fim de fazer carinho nas orelhas de Beau. Sua língua quente e macia lambeu
minha mão. Ele era um cão tão bonzinho. Fechado em uma mochila, sentindo cheiro
de comida de barriga vazia e ainda lambia minha mão. Lágrimas indesejadas
brotaram dos meus olhos. O amor de Beau, de alguma maneira, trouxe à tona toda
a minha tristeza reprimida. Mordi meu lábio e olhei para fora da janela, para a
escuridão, tentando me lembrar da última vez em que estive feliz”. (p. 25)
Bem como é a ligação que este tem com o instinto de proteção. A
necessidade que temos de segurar e proteger entre os dedos aquilo que mais
amamos.
“E meu cachorro estava
lambendo o sangue e as lágrimas do meu rosto.
Virei a cabeça para ele. Vi
preocupação em seus olhos. Um marrom e outro verde. Senti novamente Beau me
farejando e me lambendo. As lágrimas voltaram a cair.
— Ah, Beau — eu disse.
Minha voz estava tão áspera
quanto o concreto nas minhas costas. As palavras saíam abafadas e embaralhadas
pelo sangue na minha boca e por causa dos meus lábios inchados e partidos.
Ele choramingou de novo, com a
respiração quente no meu rosto. Ele estava em uma rua escura, numa cidade
estranha, longe de seu lar. E estava preocupado só comigo. Ele era o meu herói”.
(P.46 – 47)
Entre as peculiaridades da obra, temos, a cada capítulo, a distância
percorrida por Mark em quilômetros; quanto falta para que seu destino pontei
diante de seus olhos. Sua trajetória se inicia à porta de sua casa, com exatos
423 Km o separando do local onde a montanha Rainier Nem adormece sob a neve e a
tempestade que se aproxima.
O título se justifica pelas passagens, ao longo do trajeto de Mark,
onde ele declara e fez diversas observações sobre o comportamento e as escolhas
que as pessoas fazem ao longo de suas vidas. Ao todo, Mark repete a frase 14
vezes; 14 declarações sobre o quais estúpidas e dolorosas são algumas atitudes
humanas.
“Isto é o que eu não entendo: por que todo
mundo faz um escarcéu tremendo com relação à morte.
Morrer e viver. É tudo uma bagunça.
Essa é a mais pura verdade. Aquilo
me deixava irritado. Um tipo de irritação triste”. (p. 95)
Enquanto Mark traça seu caminho, diversas pessoas e
situações aparecem. Cada uma delas deixam um pedaço em Mark, bem como o garoto
se registra de alguma forma na mente de quem o encontra. Em cada encontro, ele
fotografa. Estagna aqueles momentos em sua máquina presa ao pescoço. Para ele,
fotografar é como se…:
“(…) eu levasse um pedaço de vida comigo. Todas essas
coisas acontecem, todos esses pequenos momentos passam por nós e vão embora.
Então você vai embora. — Inspirei profundamente e expirei no vidro da
janela. — Mas, quando você tira uma foto, aquele momento não passa. Você o prende. É seu. Você pode
guardá-lo. (p. 80)
No entanto, o importante são as lições que alguém tão
pequeno, e tão forte, pode nos dar.
“O mundo inteiro é uma tempestade, eu acho, e
todos nós nos perdemos em algum momento. Vamos atrás de montanhas no meio das
nuvens para que tudo pareça valer a pena, como se isso tivesse algum
significado. E, às vezes, nós as encontramos. E seguimos em frente.
Eu segui em frente.” (p. 204)
Enquanto o lia, recordei
involuntariamente de um livro que li há alguns anos e que me marcou.
Como Viver Eternamente (2008), também o primeiro livro de Sally
Nicholls, relata o diário de Sam. Logo ao início sabemos que Sam irá morrer,
por isso, ele decide escrever um livro a respeito de sua situação. O livro é
uma coleção de listas de recortes, desejos, sonhos, vontades e lições que ele
tirou com a descoberta de sua doença e do fim que se aproxima.
Logo na introdução do livro,
Sam nos toca de modo inesperado:
“Meu nome é Sam.
Tenho onze anos.
Coleciono histórias e fatos
fantásticos.
Quando você estiver lendo
isso, provavelmente já estarei morto.
Como Viver Eternamente, assim
como A Mais Pura verdade, não fala sobre a morte, mas sim sobre a vontade em se
estar vivo, o prazer em poder diariamente acordar e contar com um dia a mais
pela frente. Ambos não falam sobre o fim, mas, sim, sobre o poder e a crença na
Eternidade. Falam sobre a alegria de viver, do sentido da vida enquanto ela
dura.
Fala que precisamos
agradecer...
Precisamos não temer...
Aproveitar o que temos.
E que não precisamos estar às
portas “do fim” para acreditar que “Essa
é a Mais Pura Verdade” em nossas vidas…
INDICAÇÃO
Além de ambos os livros, se
você é uma daquelas pessoas que amam e declaram isso em palavras, indico que
visitem, sigam e leiam os textos de Ique Carvalho.
Seu coração agradecerá,
tenho certeza!
Por Luvanor N. Alves
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