Há, em São Paulo, no Brasil,
Um pequeno grupo de sobreviventes
querendo viver;
Um grupo maior ainda querendo comer...
E um traidor que ameaça destruir o que
ainda existe de humano em todos!
O medo da morte é transcendental. Um enigma
gritante existe por trás desta realidade que consome todos, movendo e guiando
civilizações ao longo da história. Contudo, maior do que o medo da dor que
resultará no fim, existe o medo da perda, de abandonar algo e simplesmente partir.
A morte é tema de diversos contextos dentro da literatura. Seja para fulminar
um enredo e deixar o leitor destroçado em lágrimas vendo ceifada sua personagem
preferida; seja para concluir uma narrativa ou um arco, onde o autor busca
apontar esse como único final previamente concebido em nossas vidas.
Existem, no entanto, o outro lado deste jogo… E a
literatura nos permite dar asas à imaginação. Ora cremos em um novo Éden, onde
nos renovaremos, ora o Descanso Eterno
nos pareça mais aceitável. Mas existem os que pensam diferentes…
Com isso, os que deveriam estar mortos ressurgem…
Caminhantes…
FAMINTOS!…
A ideia do morto-vivo faz parte da crença popular e
do misticismo coletivo antes mesmo que as HQs de The Walking Dead surgissem. Não raro encontrarmos referências na
literatura universal ao “culto do zumbi” como elemento propulsor em uma
narrativa. É possível encontrarmos, até mesmo no Brasil, escritores dedicados a
esta temática.
Influenciados pelo sucesso atual (e, muitos,
pegando carona!) do resgate de figuras icônicas como o vampiro e o lobisomem, e
mesmo não fazendo parte diretamente do folclore nacional, a questão é que
EXISTEM, SIM, autores brasileiros voltados a estes temas que valem a pena ser
lidos.
O mundo pós-apocalíptico e poucos sobreviventes que
lutam contra zumbis é o enredo base deste universo, porém, em Apocalipse Zumbi – Os Primeiros Anos
(2011), de Alexandre Callari, temos o tipo de personagem que “sobrevive” (Em
nossas mentes! Na narrativa, só lendo para saber.). Na história, quatros anos
já se passaram desde o fatídico “Dia Z”.
Encontramos a cidade de São Paulo povoada de errantes que se aglomeram
lentamente entre as avenidas agora silenciosas e pela vegetação que começa a
tomar o seu antigo espaço, aproximando-se e envolvendo o concreto dos
arranha-céus. Próximo, em o que antes havia sido um prédio de uma companhia de
segurança, um grupo de sobreviventes tenta continuar a vida, recolhendo os
cacos de tudo que foi destruído e que já está quase apagado de suas lembranças.
Manes, o
líder do grupo, possui mão de ferro sobre as decisões a serem tomadas. Sabe
quando fazer silêncio durante as vigílias; ou correr de hordas quando não
adianta mais parar e lutar. Está impetuosidade de Manes acaba contrariando
muitos dos membros do Quartel. É neste ponto que a narrativa de Callari ganha
bastante força. Não se trata apenas da luta por sobrevivência. Pior do que
dentes e garras de harpias, prontos a destroçarem, existe a ganância, o medo e a
crueldade no coração dos homens. Esse é o ponto em que o autor ganha pontos extras!
A narrativa não é necessariamente linear, com alguns flashbacks espaçados, mas é pautada em uma trama bem construída,
onde os diálogos, as discussões entre as personagens são potentes. Quase é
possível senti-los!
O risco que Callari correu com esta trama foi o de
unir dois elementos que, particularmente, sempre achei difícil que pudessem coexistir:
o misticismo do zumbi contra os nomes e sobrenomes brasileiros. Difícil
imaginar isto funcionando, pois fere a verossimilhança externa do que se conta.
A trama perde credibilidade. Mas, em Apocalipse
Zumbi, Callari casou isso de modo ímpar. Creio que a salvação dele tenha
sido justamente os instantes de discussão. O elemento “nome brasileiro” é
esquecido diante de diálogos tão verdadeiros.
Ali, os sobreviventes tentar se reorganizar em um
tipo de vida em que muitos já a consideram aceita: viver para não morrer! Pode
soar redundante, mas é justamente isso! Eles não querem fazer parte do grupo
que rasteja e esbarra contra os muros do lado de fora. A morte deixou de ser um
alívio.
Em A Noite
dos Mortos Vivos (1995), versão romanceada do filme de Romero de 1968 (veja nossa resenha clicando aqui!), escrito
por John Russo, temos, logo no início do primeiro capítulo, uma descrição que
remete muito ao desejo e perspectiva humana sobre a morte e sobre aqueles que
já morreram:
“(…) Têm sorte de
estarem mortos, de terem feito as pazes com a morte e não precisarem mais
viver. Estão debaixo da terra, alheios… alheios ao sofrimento, alheios ao medo
de morrer.” (p. 17)
A visão do “Descanso
Eterno”, ou de passar a “eternidade
em um local bonito, bom e melhor”, não existe mais. Manes e os outros outros precisam sobreviver, pois esta parece ser agora a única coisa a se fazer.
Desistir não parece mais uma opção. E, quanto mais pessoas vivas puderem ser
agregadas ao grupo, melhor. Assim, a captação e busca de sobreviventes é uma
constante.
Tudo parece bem aos olhos do líder…
Tudo necessita ser tolerado ao olhos de
todos…
Até que a fagulha de incerteza é acesa…
E ela queima…
Queima
L.E.N.T.A.M.E.N.T.E…
…Migrando para uma explosão que pode tornar
indistintos os que estão dentro dos que caminham fora dos muros…
Com clara referência a George Romero e ao seu modo
de contar histórias de horror, o livro ganha força que, ao meu ver, supera e não
perde em nada para muitos livros que circulam por aí sobre o gênero. O livro é
bom MESMO! A edição publicada pela Generale
é tão bem cuidada que vem acompanha por um CD contendo a trilha sonora para se
ouvida durante a leitura.
Em 2013 a continuação, Apocalipse Zumbi – Inferno na
Terra – Vol.2, foi publicada. Callari se comprometeu em uma trilogia para
concluir a trama e prometeu não decepcionar os leitores diante da expectativa
criada após as reviravoltas cruéis ao final do segundo livro.
São raros os livros que você para e diz: “Este é um livro que leria novamente!”.
Apocalipse Zumbi é um deles.
Por Luvanor N. Alves
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